Roberto Lima oferece visitas guiadas às nossas boas memórias
O Professor Moçambicano Nelson Saúte diz não ter visto, neste século XXI, emergir um grande escritor. Eu poderia subscrever e só não o faço porque aqui mesmo onde vivo, em Newark numa redacção de jornal, fui descobrir, um amante dum estilo jornalístico em desuso- a crónica- que me lembra por vezes o Professor Doc Brown no filme Back to The Future na forma como transporta a minha imaginação e as minhas memórias, numa crónica semanal de uma pagina inteira que é sempre pequena. Curioso que os intervenientes na 'nossa' narrativa sejam os mesmos. A tua Dona Ana, Roberto, é a minha Dona Teresa, o Tim Maia poderá ser o Zé Pedro ou o João Paulo, os cheiros das comidas são diferentes, mas como sou convidado à tua mesa, tudo esta bem. Sou eu e o meu vizinho de quase 90 anos, e o amigo dele de Águeda. Concordo com Nelson Saúte vivemos sem referências, na mediocridade, numa imundice total. Escrever ou qualquer que seja a actividade tem como objectivo único as massas, o entretenimento. Mas existe o Roberto Lima, uma espécie de Dalai Lama da crónica jornalística, que nos oferece visitas guiadas às nossas boas memórias. Ao invés do psicólogo que tenta apontar as nossas irracionalidades, que bom é viajar pela no infância povoada de gente, que era a mesma. Como um construtor de universos paralelos, transporta-nos também por contrariedades, onde temos a nossa mãe, a nossa avó, que é a mesma. O Roberto não nos vende passados, abriga-nos na hospitalidade da sua escrita. Que bom é, nesta época em que tudo se massificou, ter um texto que parece ter demorado anos a escrever. Confesso que não conheço o autor pessoalmente, para alémde duas conversas de ocasião sobre a melhor forma de fazer bacalhau, onde me engasguei ao tentar elogiar o seu trabalho, porque afinal viajamos juntos todas as semanas e o seu sorriso é disso revelador, no sorriso trás já a próxima narrativa, traz no sorriso a intemporalidade, a genialidade.