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A transgressão passou a norma


A transgressão não esta na sociedade, a transgressão está na arte. Na sociedade está a provocação, a apropriação do que nos pertence, do que é nosso por direito, através por exemplo do incitamento à desordem. Provocar significa promover, produzir, ocasionar, exercer sobre. Transgredir significa ultrapassar o limite de algo, atravessar desrespeitar uma ordem, uma lei, um procedimento etc.; infringir: transgredir uma norma social. A organização estética na arte, a beleza, o equilíbrio, harmonia é em si mesmo uma transgressão, um ir ao encontro da percepção, das emoções e ideias, com o objectivo de estimular. A transgressão tem em si a provocação assim como o conhecimento, a própria arte, as crenças, a lei, a moral, os costumes e todos os hábitos e aptidões adquiridos pelo ser humano. Na história da filosofia tentou definir-se a arte como intuição, expressão, projecção, sublimação, evasão, etc. Aristóteles definiu a arte como uma imitação da realidade, mas Bergson ou Proust vêm como a exacerbação da condição atípica inerente à realidade. Kant considera que a arte é uma manifestação que produz uma "satisfação desinteressada". A arte na sua complexidade necessitando de ser avaliada intervencionada por outras disciplinas – que não só a Estética – como a Antropologia e a Psicanálise, ou a escrita esta já a transgredir. Quando rasga a dependência com a conjuntura histórica e cultural que a fazem surgir quebra com os sistemas e códigos estabelecidos quando a ideia da obra, passou a ser a própria obra, instituiu-se que qualquer conceito lançado pelo artista é digno de ser observado e discutido, como se qualquer conceito fosse auto-sustentável ou tivesse uma dose de genialidade implícita. A sociedade actual diz o tempo todo à Arte: transgride! E aí surge um paradoxo: se a transgressão é uma norma, não transgredir passou a ser a excepção. O século XX trouxe grandes alterações nas formas da vida social mas trouxe também uma série de paradoxos que ainda não conseguimos resolver. E isso implica fazer uma profunda revisão na Arte de hoje mesmo que seja para destronar os ícones do pensamento actual.

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