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Com razão em falsa verdade


“Sábio é o ser humano que tem coragem de ir diante do espelho da sua alma para reconhecer seus erros e fracassos e utilizá-los para plantar as mais belas sementes no terreno de sua inteligência.” Augusto Cury

Andei pensando: “Que tal escrever, esta semana, um texto curto sobre um tema consensual, que não seja, por conseguinte, susceptível de debate?” - Não encontrei o tema adequado!

O problema é que na actual conjuntura económica e social o conceito debater perdeu o seu sentido e passou a ser confundido com discussão visto que quando se aborda o tema em grupo, não raras vezes alguém se julga com razão e vitorioso mesmo que não apresente o melhor argumento, bastando para tal fazer mais barulho.

Durante a minha adolescência convivi muito em bares populares vulgarmente designados “barracas” e adorava incitar discussões com interrogações do tipo: – “Afinal porque é que o Porto venceu o jogo de ontem?”

Uma questão dessas originava uma intensa discussão no seio do grupo, com todo o tipo de argumentos desde os árbitros, passando pelo preço dos jogadores, o bom treinador, etc., indo até a máfia do meu amigo Pinto da Costa – que não ficava de fora! Infelizmente não se chegava a conclusão nenhuma e se esquecia que o Porto ganhou porque marcou três golos contra apenas um da equipa adversária, por hipótese.

Hoje é muito difícil debater em Moçambique. As pessoas confundem causas e consequências. Muitas vezes elas discutem mais as consequências sem problematizar as causas; procuram culpados ondem não existem; apresentam argumentos estéticos (para sair bem na fotografia) em detrimento de matérias que possam enriquecer o debate, isto é, “questionam a questão”. Por exemplo, alguém diz em forma de pergunta a outrem: - “dizem que tens hábito de responder perguntas por outras perguntas…”. Este por sua vez responde: - “Quem te disse?”. Como vê tudo começa mal.

O provérbio deAugusto Cury acima, com o qual começo este texto, nos elucida que o poder de um ser humano não está na sua musculatura, mas sim na sua inteligência. Os fracos usam a força, os fortes usam a sabedoria. O silêncio é a oração dos sábios!

Ultimamente, nas propostas de debates na nossa sociedade a musculatura é exibida pelo volume e pelo tom da voz. Quanto mais alta e vigorosa supostamente é a ganhadora da razão, pois os inteligentes, provavelmente portadores da verdadeira razão, mantêm-se em silêncio, vincando, por conseguinte, uma verdade falsa.

Por exemplo, hoje alguém perguntou num restaurante: - “Afinal por onde anda o Dhlakama?” Ficou-se num suposto debate longo, cada um dos intervenientes procurando fundamentar a sua razão e, por fim, todos saímos sem saber onde é que efetivamente o “Pai da democracia e general dos comandos” está.

É que alguns diziam que ele está morto, enquanto que outros porque afirmavam que está de novo muito doente. Outros defendiam que está em casa do seu pai em Chibabava; havendo até quem afiançasse que está escondido na cidade da Beira ou em tantos outros locais.

Por fim, cheguei a conclusão de que nenhum dos envolvidos no diálogo sabia sobre o verdadeiro paradeiro de Dhlakama. Todos apresentaram respostas intuitivas e supérfluas, isto é, onde cada um dos proponentes gostasse que a sua resposta fosse a mais acertada. Isto é típico dos nossos analistas e é mau e triste quando se pensa debater assim.

Por fim, gosto da forma como o MOZEFO debate os assuntos sobre o nosso país, mas sendo uma iniciativa privada e não tendo sido institucionalizada duvido que tenha um aproveitamento exequível.

Jaime Langa

http://www.jornalnoticias.co.mz/


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