Relator de futebol: a erudição completa do código linguístico em directo
Uma profissão que admiro bastante é a de locutor que lentamente tem vindo ser substituída pelo jornalista e, diga-se a bem da verdade, continuamos a ter excelentes vozes na rádio portuguesa. Estas duas profissões do timbre, do som, do trabalho da voz, da fonia, complementam uma terceira: a de relator de futebol, um exercício de Português quase exímio de intensidade e resistência vocal e muito bem falado, inventivo, com imagens para sempre célebres: "bola à flor da relva", "retenção de bola", "no enfiamento da jogada"…celebrados por nós ouvintes e celebrizados por estes dotados no código, na língua, na função 'cinematográfica' da linguagem que pode passar pela narrativa documental num jogo sem interesse, onde pequenos 'nadas' confirmam a matriz narrativa, ao grande clássico transmitido com grande emotividade linguística onde decerto se recorre a todos os efeitos especiais desse magnifico aparelho, a voz, um talento que não se ensina, que não se aprende, e onde a utilização da língua atinge o seu expoente máximo- a erudição completa do código linguístico em directo, perante milhares de espectadores e milhões de ouvintes.
Como admirador de futebol e fiel sempre ao relato desportivo atrevo-me a afirmar que são os melhores do mundo os nossos relatores, pois não me recordo de um comportamento fora dos padrões da moralidade ou ofensa pessoal muito menos do uso de palavrões, que a outros profissionais de outros países, acontece, de forma involuntária, mas também de forma expressa e em ambas funciona como recurso estilístico.